Estratégia de Educação Ambiental

Evidências

A temperatura global à superfície aumentou mais rapidamente nos últimos 50 anos do que nos 2000 anos anteriores.

Em Portugal continental, nos últimos 30 anos registaram-se quatro ondas de calor com grande impacto: em 1981, 1991, 2003 e em 2013. Estima-se que estes eventos estejam na origem da morte de mais 6 500 pessoas do que o habitual.

Para Portugal, as projeções apontam para um aumento:

– Generalizado das temperaturas, apesar de ser mais acentuado no interior do país do que no litoral. Em 2040 esse aumento rondará os 3,3ºC e em 2090 estará na ordem dos 5,8ºC. (Alcoforado et al., 2009; Casimiro et al., 2006);

– Do número de dias com temperaturas máximas superiores a 35ºC e de noites tropicais (cuja a temperatura mínima não desce abaixo dos 20ºC);

– Do número, duração e intensidade de ondas de calor;
Simultaneamente verificar-se-á:

– Uma redução do número de dias de geada, que tenderão a desaparecer na maior parte do território nacional, sobretudo no litoral e no sul;

– Uma tendência para as ondas de frio desaparecerem (Reis et al., 2001; Casimiro et al., 2006; Santos e Miranda, 2006; Alcoforado et al., 2009).

As cidades, por terem pouca vegetação, as terras cobertas por alcatrão e construções altas que interferem com os ventos e elevados níveis de poluição (fruto das atividades antrópicas) serão as zonas mais afetadas pelas alterações climáticas projetadas.

Um dos problemas das cidades, que advém da sua morfologia, é o efeito ilha de calor (IUC). Este efeito é um padrão térmico que já se observa nos dias que correm e que se caracteriza pela observação de temperaturas mais elevadas nas áreas mais densas das cidades em relação aos arredores mais ruralizados. Em Setúbal espera-se um agravamento deste fenómeno, não só pela densidade da ocupação urbana, mas também pela sua posição de abrigo face às massas de ar pluviogénicas, criado pela morfologia da Serra da Arrábida.

De acordo com a avaliação e cartografia de riscos no concelho de Setúbal (Zêzere et al.,2013), na maior parte do concelho de Setúbal a suscetibilidade à ocorrência de episódios de calor intenso é “Reduzida”, mas deve ser classifica como “Moderada” nas áreas densamente urbanizadas e nos vales interiores da Serra da Arrábida, já que, apesar da proximidade do estuário do Sado e do oceano exercerem um efeito moderador na temperatura do ar, o território não deixa de estar sujeito à ocorrência de episódios de calor extremo.

Na Península de Setúbal, o incremento da frequência média anual das ondas de calor está estimado em mais 2 a 3 eventos por ano e já durante este século espera-se que a duração deste fenómeno aumente mais 10 dias do que atualmente, podendo aumentar 21 dias no final do século (PMAAC-AML,2018).

As áreas de maior suscetibilidade são as zonas de maior densidade de ocupação urbana e aquelas onde se situa a população mais vulnerável, ou seja, a população idosa (mais de 65 anos), que resida sozinha ou isolada, com morbilidades e/ou com algum tipo de incapacidade.


Suscetibilidade à ocorrência de ondas de calor.
Fonte: Zêzere et al, 2013.

Para perceber o porquê da atividade humana ter tanto impacto na temperatura global, é necessário conhecer o efeito de estufa.

A radiação infravermelha emitida pelo sol, ao chegar à superfície terrestre é refletida e enviada novamente para o espaço. No entanto, nem toda essa luz se perde imediatamente, já que os GEE, gases com efeito de estufa (dióxido de carbono, metano, vapor de água, etc.) reemitem a radiação em todas as direções e alguma dela é reenviada novamente para a superfície da Terra.

Este processo natural é fundamental pois permite que a temperatura da atmosfera terrestre se mantenha constantemente num valor ameno, em cerca de 15ºC. Mas o aumento da concentração dos GEE na atmosfera decorrente das atividades antrópicas agrava este efeito, provocando um aumento da temperatura terrestre.

Se a concentração destes gases continuar a subir, verificar-se-á simultaneamente a subida da temperatura terrestre, com consequências nefastas para todos os seres vivos.

Em 2019, as concentrações de CO2 atmosférico foram superiores a qualquer valor dos últimos 2000 anos e as concentrações de CH4 e N2O foram as mais altas dos últimos 800 mil anos. O aumento de CO2 (47%), CH4 (156%) e N2O (23%) registado desde 1750 apresenta valores idênticos às alterações do processo natural multimilenar dos períodos glaciares e interglaciares.

Os oceanos, que cobrem cerca de 71% do planeta, são fundamentais para manter o equilíbrio do sistema climático, já que transferem energia das regiões equatoriais para os polos através das correntes marítimas, regulam a temperatura da atmosfera e são importantes sequestradores do CO2 atmosférico. Percebe-se então que qualquer alteração na temperatura, na salinidade ou na acidez da água pode modificar os climas da terra, especialmente das regiões costeiras.

Desde 1900 que o nível médio do mar tem subido a uma velocidade muito superior à dos últimos 3000 anos e, no último século, registou-se um aquecimento mais rápido do que na transição interglaciar de há 11 milhões de anos.

As 3 razões para o nível do mar estar a subir, por ordem de importância, são:

1ª – O degelo dos glaciares, consequência direta do aumento da temperatura.

2ª – O aumento da temperatura da água do mar provoca a sua expansão térmica. Ao aumentar a temperatura, a água dilata ocupando, por isso, mais espaço.  

3ª – O consumo de água humano gera uma transferência da água doce para os oceanos. A água que usamos para lavar a loiça, a roupa, para o banho, etc. acaba por ir parar aos oceanos e apesar de, em comparação com as duas outras razões, ser residual, também contribuí para o aumento do nível do mar.   

Com o aquecimento continuado da atmosfera e dos oceanos, prevê-se que o nível do mar continue a subir durante os próximos séculos, a taxas cada vez mais elevadas.

As consequências deste incremento são nefastas já que mais de metade da população mundial vive a menos de 100km da costa e oito das dez maiores cidades do mundo situam-se junto ao litoral, onde a subida do mar contribui para um aumento na ocorrência de inundações, erosão costeira e aumento de tempestades oceânicas. Para além disso, prevê-se o desaparecimento de muitas ilhas atualmente habitadas.

As previsões para Portugal indicam que o nível médio do mar poderá subir 1 m (Schmidt et al., 2012), com consequências na morfologia e na ocupação da faixa costeira portuguesa. Se estas previsões se confirmarem, observar-se-á um incremento das taxas de erosão do litoral entre 15% e 25% face ao ritmo atual (Santos e Miranda, 2006; Soukiazes, 2009).

Esta intensificação dos fenómenos de erosão costeira e do recuo da linha de costa poderá levar a um aumento das áreas inundadas, bem como a uma maior influência marinha nos estuários, principalmente do Tejo e do Sado.

Para além disto, é esperado um aumento da ocorrência de temporais a atingir o largo do litoral de Portugal Continental até ao final deste século, com consequente incremento da ocorrência e da perigosidade de fenómenos extremos como galgamentos costeiros e situações de instabilidade de arribas (Santos e Miranda, 2006).

No município de Setúbal esta subida do nível médio do mar irá:

– Acelerar o recuo da linha de costa;

– Aumentar a erosão das arribas e a ocorrência de movimentos de massa em vertentes;

– Reduzir a área útil das pequenas praias encastradas da Arrábida;

– Aumentar o número e a intensidade de galgamentos costeiros e inundações, com danos nas áreas edificadas ribeirinhas, estruturas e infraestruturas portuárias, marinas e estruturas da defesa costeira.

Assim, espera-se que as zonas mais afetadas por esta subida sejam a frente urbana de Setúbal, a área do porto de Setúbal e a área industrial na península da Mitrena.

Com esta subida do nível médio das águas do mar, haverá grande impacto nos sapais e nas zonas de intermareal lodoso, que levará a uma redução das populações de aves aquáticas, se a tendência atual se mantiver (PMAAC-AML,2018).

A acompanhar esta perda de biodiversidade e degradação de habitats marinhos, espera-se uma salinização dos aquíferos.

Nas últimas décadas, as massas de gelo da Gronelândia e da Antártida, que têm um papel fundamental no sistema climático global (refletem grande parte da radiação infravermelha, contribuindo para o arrefecimento da Terra) têm perdido grandes quantidades de gelo a um ritmo crescente.

Entre 2011 e 2020, a extensão média do gelo do Mar Ártico atingiu o seu valor mínimo desde 1850. Neste período, a dimensão da área do gelo do Mar Ártico registada no final de cada verão, foi a mais reduzida desde há 1000 anos.

O recuo dos glaciares é um fenómeno global sem precedentes que ocorre desde 1950.

Ao mesmo tempo, quase todos os glaciares de montanha do globo continuam a reduzir-se, assim como a cobertura de neve do Hemisfério Norte.

No futuro próximo, segundo as projeções, esperam-se mais incêndios, de maiores dimensões e com maior período de ocorrência, o que resultará num aumento da percentagem de área ardida de 478%.

O aumento do risco de incêndio florestal ao longo deste século terá as seguintes consequências no território nacional:

– Aumento da erosão dos solos com sequelas de empobrecimento e perda de produtividade;

– Desvalorização da paisagem;

– Perda de biodiversidade;

– Perda da atratividade turística;

– Mudanças nos usos do solo.

O concelho de Setúbal apresenta grande suscetibilidade à ocorrência de incêndios rurais/florestais, devido à existência de espaços florestais mais densos e declives mais acentuados (PMAAC-AML,2018). Esta propensão à deflagração de incêndios é mais marcante no setor ocidental do Parque Natural da Arrábida, onde se integra a União de Freguesias de Setúbal, a União de Freguesias de Azeitão e São Sebastião (Zêzere et al, 2013; PMAAC-AML,2018).

Espera-se um agravamento no risco de incêndios devido ao aumento de parâmetros relacionados com a temperatura projetados para as URHC dos Vales do Tejo e Sado e da Península de Setúbal, às quais o município pertence.


Suscetibilidade a incêndios rurais/florestais em condições futuras.
Fonte: PMAAC-AML,2018.

As mudanças nos regimes de precipitação devidas às alterações climáticas não são nem serão uniformes em todas as regiões do planeta, com incrementos nalgumas regiões, reduções noutras, ou mesmo nenhuma alteração observada.

Segundo as projeções climáticas (IPCC,2013), as variações a registar no padrão de precipitação serão:

– Aumento da precipitação média anual nas latitudes elevadas, no Oceano Pacífico equatorial e em algumas regiões húmidas das latitudes médias, até ao final do séc. XXI;

– Redução significativa na precipitação nas regiões áridas subtropicais e semiáridas das latitudes médias;

– Aumento dos fenómenos extremos de precipitação, principalmente em regiões de clima mais quente, uma vez que o aumento das temperaturas provocam um aumento da evaporação e, consequentemente das tempestades;

– Aumento na precipitação forte na América do Norte, América Central e Europa;

– Episódios de seca na zona do Mediterrâneo;

– Aumento da frequência, intensidade e/ou quantidade de precipitação intensa, sobretudo nas latitudes médias e nas regiões tropicais húmidas;

– Precipitação mais concentrada, isto é, grande parte da precipitação total anual ocorrerá num período de tempo cada vez menor, com impactos no stress hídrico de inúmeras espécies vegetais.

Para Portugal espera-se que haja:

– Diminuição da precipitação anual;

– Redução do número médio anual de dias chuvosos;

– Aumento dos episódios de precipitação intensa ou muito intensa;

– Incremento da frequência e severidade de episódios de seca, com fortes impactos na disponibilidade de água.

O município de Setúbal não foge à regra e as previsões apontam para um incremento dos episódios de precipitação intensa que causarão cheias rápidas. As cheias rápidas têm um grande potencial destruidor, não apenas pelo seu carácter súbito mas também pela energia associada ao escoamento das águas e detritos. Estas constituem o maior perigo para o município, já que afetam todas as freguesias, à exceção da freguesia do Sado. Para além disso, cerca de 79% das áreas ameaçadas por cheias situam-se em zonas urbanas, o que contribui para um aumento dos danos causados.

Prevê-se ainda o aumento da incidência de tempestades no território de Setúbal, desencadeando inundações, queda de estruturas e árvores e outros danos causados pelos ventos forte e pela precipitação intensa.

Para reduzir a vulnerabilidade e a exposição face a este perigo é necessário conhecer as “Zonas Ameaçadas por Cheias” – Áreas suscetíveis a inundações devido ao transbordo dos cursos de água – e estas são:

São Lourenço e São Simão, da União de Freguesias de Azeitão, pela unidade hidrográfica “Vala Real”. Em rio de Lagos foram delimitadas as áreas ao longo do curso de água principal, da ribeira de Casal Bolinhos foram delimitas as áreas ao longo do curso de água principal e do afluente.

– Na antiga freguesia de Nossa Senhora da Anunciada (agora parte da União de freguesias de Setúbal), devido ao seu curso de água principal, a ribeira da Comenda. Apesar de não apresentar um comportamento problemático em período de cheias por não existirem aglomerados urbanos no leito de cheia, sob precipitação intensas, os declives fortes associados ao relevo acidentado conjugados com uma situação de maré alta podem gerar cheias ao longo da parte jusante da ribeira da Comenda.

– A cidade de Setúbal é a área mais problemática, uma vez que está inserida na zona das Ribeiras do Livramento e da Figueira, que já registam episódios de cheias rápidas com importantes prejuízos para a cidade de Setúbal.

As cheias progressivas têm expressão somente na freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra, cuja suscetibilidade à sua ocorrência será baixa no futuro (PMAAC-AML,2018).


Zonas Ameaçadas por Cheias no Concelho de Setúbal.
Fonte: Zêzere et al, 2013.